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Drenagem Rodoviária – Entenda a Transposição de Talvegues com Bueiros

Em sua função primordial, a drenagem de uma rodovia deve eliminar a água que, sob qualquer forma, atinge o corpo estradal, captando-a e conduzindo-a para locais em que menos afete a segurança e durabilidade da via.

Basicamente, a drenagem rodoviária é composta por transposição de talvegues, drenagem superficial, drenagem do pavimento, drenagem subterrânea ou profunda e drenagem de travessia urbana.

 Transposição de Talvegues

No caso da transposição de talvegues, essas águas originam-se de uma bacia e que, por imperativos hidrológicos e do modelado do terreno, têm que ser atravessadas sem comprometer a estrutura da via, conforme mostrado na Figura 1. Esse objetivo é alcançado com a introdução de uma ou mais linhas de bueiros sob os aterros ou construção de pontilhões ou pontes transpondo os cursos d’água, obstáculos a serem vencidos pela rodovia.

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Figura 1 – Bacia de Contribuição e Talvegue a ser Transposto

As obras para transposição dos talvegues podem ser bueiros, pontilhões e pontes (ver Figura 2).

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Figura 2 – Obras para Transposição de Talvegues

Bueiros

Na literatura técnica há várias definições para bueiros, mas para fins didáticos será abordada nessa postagem a seguinte:

“Bueiro é um buraco circular ou quadrado praticado num muro, terreno ou estrada, com tubulação embutida para dar escoamento a águas pluviais, lençóis subterrâneos, riachos, rios etc.”

 Segundo o DNIT, os bueiros são obras destinadas a permitir a passagem livre das águas que acorrem as estradas. Compõem-se de bocas e corpo.

Os bueiros podem ser classificados em quatro classes, a saber:

  • quanto à forma da seção;
  • quanto ao número de linhas;
  • quanto aos materiais com os quais são construídos;
  • quanto à esconsidade.

Quanto à forma da seção, são tubulares, quando a seção for circular; celulares, quando a seção transversal for retangular ou quadrada; especial, elipses ou ovóides, quando tiver seções diferentes das citadas anteriormente, como é o caso dos arcos, por exemplo.

Quanto ao número de linhas, são simples, quando só houver uma linha de tubos, de células etc; duplos e triplos, quando houver 2 ou 3 linhas de tubos, células etc.

Quanto ao material, os materiais atualmente usados para a construção de bueiros no DNIT são de diversos tipos: concreto simples, concreto armado, chapa metálica corrugada ou polietileno de alta densidade, PEAD, além do PRFV – plástico reforçado de fibra de vidro

Quanto à esconsidade, os bueiros podem ser normais (quando o eixo do bueiro coincidir com a normal ao eixo da rodovia) e esconsos (quando o eixo longitudinal do bueiro fizer um ângulo diferente de zero com a normal ao eixo da rodovia). A Figura 3 apresenta a distinção entre as situações de esconsidade do bueiro ou não.

postDrenagem-fig3Figura 3 – Disposição de um Bueiro Quanto a Esconsidade

A terminologia de nomenclatura dos bueiros é apresentada em função das características supracitadas, sendo:

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Dimensionamento de Bueiros

No dimensionamento, um bueiro pode:

  • Funcionar como canal;
  • Funcionar como orifício; e
  • Funcionar como Vertedouro.

Um bueiro funciona como canal quando as extremidades de montante e jusante não se encontram submersas, como vertedouro quando a altura da água sobre a borda superior nula e como orifício quando trabalha com carga hidráulica,  isto é, com a entrada submersa.

As Figuras 4 e 5 ilustram as duas primeiras situações:

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Figura 4 – Bueiro Trabalhando como Canal

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Figura 5 – Bueiro Trabalhando como Orifício

Toda a técnica de drenagem na construção rodoviária se apoia na hidrodinâmica que é a ciência que trata da mecânica dos fluidos, ou seja, trata do movimento dos fluidos.

É importante para o processo de dimensionamento, que o projetista conheça a vazão da bacia de contribuição afluente ao ponto necessário de transposição de talvegue. O cálculo dessa vazão é realizado por meio do Método Racional. Tal método apresenta o calculo da vazão afluente em função do coeficiente de escoamento superficial, da intensidade de chuva e da área da bacia de contribuição. A fórmula do referido método está mostrada na Figura 6.

 

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Figura 6 – Fórmula utilizada no Método Racional

De conhecimento do vazão afluente ao bueiro, é necessário que o mesmo tenha capacidade de dar fluxo a esse fluido em movimento. Dessa forma, o bueiro deve ser dimensionado para tal finalidade. O cálculo da vazão em cada linha do bueiro é realizado em função da área molhada e do raio hidráulico da seção e também do coeficiente de manning (depende do material constituinte das paredes do bueiro) e de sua inclinação.

A Figura 7 ilustra a seção de uma linha de bueiro tubular indicando que o Raio Hidráulico é calculado em função da Área Molhada e do Perímetro Molhado. Já a Figura 8 ilustra a seção de uma linha de bueiro celular.

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Figura 7 – Seção de Vazão de uma Linha de Bueiro Circular

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Figura 8 – Seção de Vazão de uma Linha de Bueiro Celular

Caso a capacidade de vazão da(s) linha(s) de bueiro(s) forem superiores a vazão afluente gerada pela bacia de contribuição, o dimensionamento estará completo, caso contrário outros cenários serão analisados.

Em um próximo post, vou mostrar um passo a passo de como dimensionar um bueiro, tanto para circulares quanto para celulares.

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Sobre Ricardo Venescau

Engenheiro Civil, mestre e doutorando em Engenharia de Transportes. Apaixonado por Engenharia Rodoviária

4 Comentários

  1. O básico porém necessário para o dia a dia e fácil entendimento de engenheiro civil sem experiência na área.
    A meu ver o grande problema atual é que o clima vem se modificando rapidamente em virtude da irracionalidade humana e crescimento populacional sem controle. Acresce ainda, e com forte influência em desastres previsíveis, a falta de visão holística dos diversos agentes que afetam o comportamento teórico no funcionamento da obra, como sejam: Aumento extremamente rápido de impermeabilização do solo nas bacias de contribuição, uso de dados pluviométricos antigos, aumento de despejos de lixo nos cursos dágua, projetos com ausência de drenos de alívio, insuficiente compactação, principalmente nos taludes,e/ou material inadequado do corpo do aterro.

  2. Sensacional. Você esclareceu em um post pontos que eu não consegui entender em um curso completo que fiz. Obrigada

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