Para muitos engenheiros que estão acostumados a lidar com estradas vicinais no seu dia-a-dia, ouvir falar o termo projeto executivo de uma estrada vicinal lhes soa meio que absurdo. De certa forma, esta é uma realidade em nosso país. Geralmente as estradas vicinais são construídas sem obedecer a qualquer tipo de projeto ou orientação técnica e seguem um caminho já existente.
A grande maioria das estradas vicinais apresentam geometria mal definidas que se caracterizam por:
- Rampas longitudinais acentuadas;
- Curvas horizontais fechadas;
- Greide colado (muitas vezes rebaixado);
- Faixas estreitas;
- Não apresentam concordância horizontal;
- Não apresentam concordância vertical;
- etc.
No que diz respeito à drenagem, muitas vicinais também se apresentam deficientes. É importante relembrar que a combinação água x superfície de rolamento não é benéfica para a vicinal.
Como já foi abordado em algumas postagens anteriores, as estradas vicinais são de grande importância para o escoamento da safra agrícola e também para a assistência às comunidades das áreas rurais mais restritas.
Se analisarmos pela visão da boa técnica de engenharia, é perfeitamente possível elaborar um projeto executivo para implantação de uma estrada vicinal da mesma forma que costuma a se proceder para as vias pavimentadas, com exceção do projeto de pavimentação pois o pavimento não é aplicável para esse tipo de via.
ETAPAS DE PROJETO
Em geral, as principais etapas para elaboração de um projeto executivo, em poucas palavras, consiste basicamente no seguinte:
- Planejamento para execução das diversas fases do projeto;
- Reconhecimento da área (visita de campo);
- Definição do traçado do novo segmento;
- Obtenção de dados essenciais ao projeto;
- Elaboração de cálculos e memoriais;
- Elaboração de relatório e desenhos;
- Elaboração do orçamento;
No que diz respeito ao reconhecimento de campo, essa fase é muito importante para que o projetista conheça a região onde a nova via será implantada e identifique pontos relevantes a serem considerados durante a elaboração do projeto. Essa etapa não é dispensável e é muito importante para um resultado de qualidade.
Definição do Traçado
É importante na definição do traçado considerar os seguintes etapas:
- Determinar ponto inicial e final;
- Fixar pontos de passagem obrigatória;
- Conhecer interferências ao longo da diretriz (solo-mole, rocha, rios, pontos altos e baixos, etc);
- Identificar principais pólos geradores de tráfego;
- Determinação de elementos de projeto (velocidade diretriz, etc.)
- Elaborar vários cenários e proceder avaliação comparativa entre os mesmos;
- Elaborar plano de adequação funcional;
Um traçado bem definido representa uma construção com menor probabilidade de interferências e até mesmo custos mais reduzidos. No meu ponto de vista, é uma das etapas mais importantes na concepção de um novo projeto.
Obtenção de Dados Essenciais de Campo
Várias são as informações essenciais a um projeto executivo que devem ser obtidas em campos, dentre essas informações citaremos aquelas obtidas em 4 estudos importantes:
- Estudo de Tráfego;
- Levantamento Topográfico;
- Estudos Hidrológicos;
- Estudos Geotécnicos.
O estudo de tráfego fornece ao projetista uma contagem classificatória e volumétrica dos veículos. Essas informações são de grande utilidade em várias fases do projeto, inclusive para determinação da capacidade da via, para definição do nível de serviço, para o dimensionamento do pavimento entre outras.
Através do levantamento topográfico, o projetista irá conhecer com riqueza de detalhes o relevo da área estradal e identificar itens relevantes ao projeto como: construções, cercas, cursos de água, estradas, caminhos e acessos, linhas de transmissão e postes existentes, árvores e etc.
Por meio dos estudos hidrológicos, o projetista obterá informações que subsidiarão dimensionamento de vários dispositivos de drenagem e também de obras de arte especiais.
Os estudos geotécnicos dão conhecimento sobre os materiais existentes na região e que possam ser utilizados na construção da nova via em questão.
Abaixo pode ser visto diferentes tipos de elementos que compõem um projeto executivo e que são perfeitamente exequíveis para um estrada vicinal.
MAPA DE SITUAÇÃO
O mapa mostra graficamente o posicionamento do segmento estradal em questão no contexto geral da região. Esse mapa é bastante utilizado em projetos executivos de vias pavimentadas e nada impede que o mesmo seja desenvolvido para uma estrada vicinal. Dessa forma, é perfeitamente exequível um mapa de situação em projeto executivo de uma vicinal. A imagem abaixo mostra um exemplo de mapa de situação:
CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS E OPERACIONAIS
O quadro de características técnicas e operacionais traz um resumo de todas as informações que são relevantes ao projeto, dentre elas:
- Classe considerada para a via;
- Elementos geométricos utilizados;
- Etc.
Veja exemplo abaixo:
Esse item do projeto executivo também é perfeitamente aplicável ao projeto de uma estrada vicinal.
PROJETO DE TERRAPLENAGEM
Segundo a Wikipédia, terraplenagem é uma técnica construtiva que visa aplainar e aterrar um terreno. Nós engenheiros rodoviários entendemos como terraplenagem sendo uma etapa de construção que visa manter o terreno com as características geométricas definidas por um projeto.
Geralmente um projeto de terraplenagem define as larguras e alturas que a camada final de um terreno deve apresentar antes de receber as camadas mais nobres. Tal projeto define uma configuração final para a nova superfície e, a partir daí define as necessidades de movimentação de terra para cortar ou aterrar o terreno natural para que adote a configuração projetada.
Como já foi dito anterior, a grande maioria das estradas vicinais apresenta greide colado. Tal configuração determina a necessidade de elevação do terreno natural para melhorias das condições de suporte e também de drenagem.
Dessa forma, um projeto de terraplenagem é perfeitamente executável, considerando a boa técnica de engenharia, para uma estrada vicinal. Sabemos que há fatores alheios à técnica que impedem a execução de tal projeto, mas tais fatores não serão considerados em nossa abordagem.
Um projeto de terraplenagem, consiste basicamente na relação Corte x Aterro e apresenta uma série de desenhos e planilhas que são de grande importância para a determinação do custo, do planejamento e da metodologia construtiva da obra.
Os principais elementos contidos em um projeto de terraplenagem são:
- Nota de Serviço de Terraplenagem
- Quadro de Volumes
– Seção Tipo de Terraplenagem
- Gráfico de Localização das Ocorrências
- Caracterização de Empréstimos e Bota-Foras
- Alargamento de Cortes e Aterros
- Demais itens relevantes para o projeto
PROJETO GEOMÉTRICO
PROJETO DE DRENAGEM
Em sua função primordial, a drenagem de uma via deve eliminar a água que, sob qualquer forma, atinge o corpo estradal, captando-a e conduzindo-a para locais em que menos afete a segurança e durabilidade da mesma.
Segundo Baesso & Gonçalves (2003), sistema de drenagem é o conjunto de elementos cuja finalidade é a de promover o escoamento das águas que contribuem à plataforma para fora do corpo estradal.
As águas inadequadamente conduzidas afetam a capacidade de uso da via e podem causar erosões e rompimento dos bordos da estrada.
Considerando o grande poder de destruição destas águas, a drenagem merece um tratamento especial e permanente.
Devido ao fato das estradas vicinais serem construídas apenas com camadas de solo, o efeito devastador da água é ainda maior. Esse fato reforça a necessidade de existência de um projeto executivo para a drenagem de tais vias.
O projeto executivo de drenagem apresenta o detalhamento e o dimensionamento dos dispositivos de drenagem, sejam eles para drenagem superficial, corrente ou profunda.
A lista abaixo apresenta alguns dispositivos de drenagem que são perfeitamente aplicáveis e necessários ao bom funcionamento de uma estrada vicinal:
- Sarjeta;
- Meio Fio;
- Descida d´água;
- Dreno (superficial e profundo)
- Bueiro;
- Galeria;
- Caixa coletora;
- Boca de lobo;
- Poço de visita;
- Etc.
Segue algumas imagens de dispositivos de drenagem:
PROJETO DE SINALIZAÇÃO
O aumento acentuado da frota, aliado à crescente qualidade dos veículos em circulação nas estradas brasileiras e ao fato de não ter havido uma evolução da malha rodoviária do País compatível com a dos veículos e a do tráfego fizeram com que a sinalização assumisse uma importância crescente na segurança viária,
De modo geral, a sinalização deve conquistar a atenção e a confiança do usuário, permitindo-lhe ainda um tempo de reação adequado. A conquista deste objetivo se dá pelo uso de sinais e marcas em dimensões e locais apropriados e a escolha das dimensões e locais adequados depende, por sua vez, de um conjunto de fatores que compõem o ambiente rodoviário como, por exemplo:
- Características físicas da rodovia (pista simples, pista dupla, número de faixas de tráfego etc.);
- Velocidade operacional da rodovia;
- Características da região atravessada pela rodovia (região plana, ondulada ou montanhosa);
- Tipo e intensidade de ocupação lateral da via (uso do solo urbano ou rural).
Para o caso das estradas vicinais, o projeto de sinalização vertical é de suma importância e perfeitamente exequível se levado em consideração a técnica.
A sinalização vertical é um subsistema da sinalização viária, que se utiliza de sinais apostos sobre placas fixadas na posição vertical, ao lado ou suspensas sobre a pista, transmitindo mensagens de caráter permanente ou, eventualmente, variável, mediante símbolos e/ou legendas preestabelecidas e legalmente instituídas.
A sinalização vertical tem a finalidade de fornecer informações que permitam aos usuários das vias adotar comportamentos adequados, de modo a aumentar a segurança, ordenar os fluxos de tráfego e orientar os usuários da via. A sinalização vertical é classificada segundo sua função, que pode ser de:
- regulamentar as obrigações, limitações, proibições ou restrições que governam o uso da via;
- advertir os condutores sobre condições com potencial risco existentes na via ou nas suas proximidades, tais como escolas e passagens de pedestres;
- indicar direções, localizações, pontos de interesse turístico ou de serviços e transmitir mensagens educativas, dentre outras, de maneira a ajudar o condutor em seu deslocamento.
Os sinais possuem formas padronizadas, associadas ao tipo de mensagem que pretende transmitir (regulamentação, advertência ou indicação).
A seguir exemplo de placas de sinalização vertical:
- PLACAS DE SINALIZAÇÃO REGULAMENTAR
(Fonte: Manual Brasileiro de Sinalização de Transito, Vol I)
- PLACAS DE SINALIZAÇÃO DE ADVERTÊNCIA
(Fonte: Manual Brasileiro de Sinalização de Transito, Vol II)
PLACAS DE SINALIZAÇÃO INDICATIVA
Para o caso das estradas vicinais, o projeto de sinalização vertical é de suma importância e perfeitamente exequível se levado em consideração a boa técnica de engenharia rodoviária.
PROJETO DE OBRAS DE ARTE ESPECIAIS
O projeto de obras de arte especiais (OAE) apresenta os detalhes e dimensionamento de obras com cálculo estrutural específico, que consistem em:
- Pontes;
- Pontilhões;
- Viadutos.
o projeto deve conter pelo menos:
- Locação da obra;
- Detalhamento da infraestrutura;
- Detalhamento da mesoestrutura;
- Detalhamento da superestrutura;
- Detalhamento dos encontros (lajes de transição/aproximação);
- Etc.
Os principais dados para o projeto das OAE são:
- Elementos topobatimétricos;
- Elementos hidrológicos;
- Elementos geológicos e geotécnicos.
A seguir um exemplo de projeto de uma ponte de concreto.
É importante salientar que Obras de Arte Especiais são perfeitamente exequíveis em estradas vicinais, portanto tal tipo de projeto é viável de ser desenvolvido também para as estradas de terra.
PROJETO DE OBRAS COMPLEMENTARES
As obras complementares são de grande importância para o bom funcionamento de uma via. Dentre elas pode ser destacada a cerca de proteção.
No meu ponto de vista de usuário de rodovias, e olhe que uso bastante, me sinto mais seguro trafegando em uma via onde consigo visualizar a existência de cercas de proteção nas áreas laterais. Dessa forma, terei certeza que a probabilidade do aparecimento repentino de animais de maior porte (vacas, cavalos, etc) nas faixas viárias é bem menor do que na situação da inexistência desse dispositivo.
Sendo assim, o projeto de detalhamento da cerca de proteção é perfeitamente exequível em uma obra de estrada vicinal.
A imagem abaixo mostra um exemplo de detalhamento de uma cerca com mourões de concreto e 8 fios de arame.
DEMAIS PROJETOS RELEVANTES
Outros projetos podem compor o projeto executivo de uma estrada vicinal, lembrando que nessa postagem estamos considerando apenas os aspectos técnicos e as boas técnicas de engenharia. Dentre eles,
- Projeto de Desapropriação;
- Projeto de Meio Ambiente;
- Projeto de Interseções e Acessos (se for o caso);
As obras complementares são de grande importância para o bom funcionamento de uma via. Dentre elas pode ser destacada a cerca de proteção.
No meu ponto de vista de usuário de rodovias, e olhe que uso bastante, me sinto mais seguro trafegando em uma via onde consigo visualizar a existência de cercas de proteção nas áreas laterais. Dessa forma, terei certeza que a probabilidade do aparecimento repentino de animais de maior porte (vacas, cavalos, etc) nas faixas viárias é bem menor do que na situação da inexistência desse dispositivo.
Sendo assim, o projeto de detalhamento da cerca de proteção é perfeitamente exequível em uma obra de estrada vicinal.
A imagem abaixo mostra um exemplo de detalhamento de uma cerca com mourões de concreto e 8 fios de arame.
MATERIALIZAÇÃO DOS PROJETOS
As imagens abaixo mostram os diversos projetos constantes no projeto executivo de uma via, seja ela estrada ou rodovia, com exceção do pavimento e a sinalização horizontal para as estradas de terra, materializados.
O assunto é interessante.